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O SER PAI
O SER PAI
O ser homem, ser masculino e o ser pai são qualificações atribuídas ao sujeito pela cultura na qual ele está inserido, definindo um padrão de comportamento a ser seguido.
Historicamente, ao homem era associado às ideias de força, poder, dominação, agressividade e autoridade. Às mulheres cabiam as responsabilidades de cuidar da casa e dos filhos, ou seja, de tudo àquilo que se referia ao âmbito privado. Entretanto, no século XX, com as conquistas do movimento feminista e com a entrada das mulheres no mundo do trabalho (atividades antes reconhecida como exclusivamente masculina), a estrutura familiar precisou ser modificada - o lar deixou de possuir uma dedicação exclusiva da mulher e os homens passaram a compartilhar com elas os cuidados com a casa e com os filhos.
A mudança do antigo sistema patriarcal não altera apenas a estrutura familiar e as relações, mas marca uma mudança de pensamento, de paradigma de que é ser homem, de que é ser pai. A paternidade, caracterizada pelo homem provedor, da forma de relacionamento pouco afetiva, autoritária e indiferente, rompe seu papel tradicional e passa a viver uma relação de carinho e aproximação com a família, em especial aos filhos.
Diante do tempo sob um regime patriarcal, tal mudança de paradigma não é fácil, e ainda é possível perceber em alguns comportamentos os modelos antigos, mas, por outro lado, há um esforço para superar esta filosofia e envolver-se efetivamente com os filhos, demonstrando o amor e o carinho que sentem. Assim, as relações de autoridade e de poder, vão abrindo espaços para relações permeadas por afeto e negociações – é a ruptura de estereótipos de uma masculinidade insensível e intocável.
O ser pai, como não poderia ser diferente, também é permeado pelo enfoque paternalista do pai provedor, mas que também sofreu mudanças com a saída da mulher/esposa para o mercado de trabalho. O ser pai é uma construção; diferente da mulher que é considerada mãe desde o momento da gravidez, ao homem, o título só lhe cabe após o nascimento do filho, na medida em que este assume suas responsabilidades e vínculos com o recém-nascido.
A relação que o homem teve com o seu próprio pai acaba sendo, na maioria das vezes e de forma única, a referência mais próxima do papel de pai. Assim, acaba unindo o modelo tido do pai (excluindo o que considera falha e melhorando o que considera bom) com o seu ideal de ser; diante disto, concebe um novo e singular personagem. A experiência de ter sido criado em um modelo tradicional, em que se é geralmente frio e distante, faz com que aspire ser um pai diferente.
A paternidade é um divisor de águas na vida de um homem. Mais do que uma nova responsabilidade é uma revisão na forma de perceber o mundo e de agir. Muitas expectativas são criadas, principalmente como será o seu relacionamento com o bebê e como será atuando como pai. Assim, a visão paternalista é rompida ao perceber que, para um bebê, para uma criança, o fundamental não são as contas pagas em dias ou então não faltar alimento, mas a expressão de afeto, demonstrado através de gestos de amor, carinho e presença pela criança.
Muitos, ainda, ficam centrados na busca do trabalho e do sustento, pautados pela ideologia do “ganha-pão”, o que repercutirá na mesma forma de criação das gerações anteriores e, que criticaram até mesmo o próprio pai pela forma com que foi criado – repetindo este comportamento em seu próprio filho.
É com o parto que “o ser pai” começa, principalmente no primeiro contato tátil com o recém-nascido. É com o nascimento do filho que o pai inicia a vivência do papel almejado durante toda a gravidez e, em alguns casos, durante grande parte de sua vida. É o surgimento de um novo papel e de uma nova forma de se relacionar com o seu entorno. Diante disto, outras funções e identidades de sua vida deverá se ajustar a esse novo papel.
A intimidade entre pai e filho é construída na medida em que a relação de amor e carinho se estabelece. Mello (apud Paula, 1999), afirma que quando há o desinteresse ou ausência do pai, os prejuízos ao desenvolvimento da criança refletem em aspectos de relacionamento social, dificuldades de aprendizado e imaturidade emocional.
Atualmente, os homens têm assumido e externalizado os sentimentos, antes negado, de alegria e exaltação pelo nascimento do filho, além de uma maior participação ativa na vida da criança. Assim, o homem se permite ficar mais próximo, mas íntimo com o filho, fazendo com isso um estreitamento na relação pai-filho. A relação se amplia, tanto que os pais passam a assumir algumas atividades que eram associadas às mães, como por exemplo, acompanhar o desenvolvimento escolar; se comportando desta forma eles se consideram presentes e mais próximos da vida dos filhos, mesmo que, em alguns casos, o tempo de contato com a criança fica reduzido por motivos do trabalho.
Com pouco tempo, os pais procuram estar sempre ao lado dos filhos aproveitando as ocasiões possíveis. Não se restringir aos carinhos, as atenções e as preocupações dos filhos é importante, pois, como apresentado anteriormente, o ser pai implica, também, em dividir com a mãe os cuidados básicos do filho. Em suma, ser pai hoje é se ocupar dos cuidados básicos, da educação moral e afetiva do filho.
Todo pai é filho e sendo filho, quando este se torna pai, consegue compreender e entender os reais motivos de alguns comportamentos do pai quando aquele era criança. Ser pai também é o momento de refletir o “ser filho” e entender e apagar mágoas e tristezas que possa existir, pois nem sempre é possível fazer tudo o que se deseja ao filho. Este, que só compreenderá e conseguirá entender, quando se tornar pai.
Sentimentos, emoções inexplicáveis... A paternidade é singular é complexa, na qual não existe o certo e o errado, mas existe a máxima intenção de cuidar e tornar o filho o melhor Ser do mundo.
Referências:
Freitas WMF, Silva ATMC, Coelho EAC, Guedes RN, Lucena KDT, Costa APT. Paternidade: responsabilidade social do homem no papel de provedor. Rev Saúde Pública 2009, 43(1): 85-90.
GABRIEL, Marília Reginato; DIAS, Ana Cristina Garcia. Percepções sobre a paternidade: descrevendo a si mesmo e o próprio pai como pai. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 16, n. 3, p. 253-261, dez. 2011 . Disponível em . acessos em 31 jul. 2015. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2011000300007.
PAULA, Daniela de Oliveira. Pai: seu lugar na espera do nascimento do(a) filho(a).Rev. bras. enferm., Brasília , v. 52, n. 1, p. 144-152, Mar. 1999 . Available from . access on 31 July 2015. https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71671999000100015.
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