Atendimentos Especializados

A Medicalização no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

03/11/2014 17:32

No último texto vocês conheceram e ficaram sabendo um pouco mais sobre o que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH. Nesta semana, dando continuidade ao assunto, conheceremos sobre os medicamentos usados de maneira crescente quando se fala neste transtorno, o cloridrato de metilfenidato (Ritalina® / Concerta®).

Cada vez mais os psicofármacos vêm ganhando espaço no tratamento da saúde mental nos últimos trinta anos. O uso da medicação está se destacando em relação a psicoterapia e, em muitos casos, tornando-se o único tratamento prescrito (Silva, Ana C. P. et al); tal fato, muitas vezes se deve, pelo valor financeiro agregado e a rápida resposta quando comparado ao tratamento psicoterápico.

A Ritalina® ou o Concerta® são os medicamentos mais prescritos atualmente para o tratamento de TDAH. Trata-se de um estimulante que, quando usado na dosagem correta, auxilia o desempenho de tarefas escolares e acadêmicas, pois aumenta a liberação de dopamina (neurotransmissor envolvido no controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções e memória), aumentando a concentração, além de atuar como atenuador da fadiga (ITABORAHY,2009)

                Há a necessidade de aprimorar os estudos no que tange aos mecanismos de ações desses medicamentos, pois segundo ANDRADE, 2004 apud Yepes, apesar da eficácia dos estimulantes no tratamento do TDAH, aproximadamente 25% das crianças não apresentaram resposta à medicação. Contudo, em 75% dos sujeitos, os estimulantes produziram melhora na motivação, coordenação motora, habilidade visomotora e aprendizado de curto prazo, ou seja, houve uma melhora apenas no desempenho de atenção.

                O diagnóstico de TDAH é um conjunto de informações sobre o paciente e não apenas comportamentos inadequados que atrapalham um ambiente ou que “tiram a paciência” de pais e professores. Partindo de uma análise estereotipada (se esta inquieta, distraída, “incontrolável” tem TDAH) é na criança que recai toda a consequência de um olhar único e sem critérios. A consequência: a criança passa a ser medicada sem a real necessidade.

                Além disso, há o risco do uso irracional do medicamento e que somente é diagnosticado a longo prazo e, em geral, quando o quadro já esta instalado – é o vicio ao medicamento.

Precisamos atentar ao fato de que o individuo deve ser compreendido como um todo e não apenas tratá-lo de acordo com sua sintomatologia, onde o emprego de medicamentos podem trazer melhorias nos sintomas, porém a causa é ignorada e a integração do individuo em seu contexto social deixado de lado. Também, não podemos perder de vista o “ser criança”, as características inerentes dessa idade e rotulá-las, simplesmente, como anormais.

Segundo dados, o Brasil é o segundo País em consumo de metilfenidato, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em apenas 08 anos (2000 a 2008) a venda subiu mais de 1.500% - isto ocorreu, pois ele é o único medicamento comercializado para o tratamento de TDAH.

                Devemos pressupor, também, que tal fato se deve a uma mudança nos modelos sociais onde tudo se remete ao imediatismo, as coisas rápidas e ao sem dor, onde as pessoas estão sempre em busca de uma pseudo felicidade.

                Tudo isto vai de contra mão ao desenvolvimento natural de uma criança, pois “se você acha que seu filho está muito arteiro, fique calmo. Ele esta apenas sendo criança, não tem TDAH” – (Slogan da Campanha do Conselho Federal de Psicologia sobre a Não Medicalização).

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